sábado, 15 de maio de 2010

Alien

Ele estava no ônibus, em direção ao centro da cidade. Era uma noite fria de sexta em junho, no Rio de Janeiro. Enquanto esperava chegar no ponto final do ônibus pensava como seria esse lugar. Não se sentia bem em ir a esse lugar, mas se sua namorada queria ir, ele iria junto - até o inferno, se assim fosse possível.
Dez e meia, o ônibus chegou no seu ponto final. Saiu do ônibus, e, ao longe, já podia ver a fila para entrar na boate. Tão logo chegou na fila, viu sua namorada e os amigos dela. Ele cumprimentou os amigos dela e beijou carinhosamente a namorada. Porém ele não pôde deixar de notar o público na fila: muitos fumavam, outros já bebiam. Tentou ignorar o resto das pessoas e se concentrar nos conhecidos e no rosto de sua namorada. Porém esta falsa paz não durara muito. Os amigos da namorada, a namorada e ele andaram lentamente na fila, enquanto conversavam frivolidades de início de balada. Quando ele chegou na entrada da boate, sentiu um grande arrepio na espinha, seguido por uma súbita queda de pressão. Ele vira um homem vestido em roupas espalhafatosas de mulher, usando sapato alto, cabelos postiços femininos e maquiagem pesada - a fim de disfarçar o pomo de adão, e todos os outros demais traços masculinos. Essa figura assustou ele, mas pensando em sua namorada, engoliu toda a angústia e mal estar que aquela visão lhe causara e continuou andando.
Assim que adentrou na boate, ainda um pouco vazia, teve outra má impressão, que lhe causou as mesmas sensações opressivas que a figura na porta: muitos elementos da cultura homossexual estavam presentes (homens fortes já se agarravam, bem como mulheres). Ele já tinha estado em outras boates com música e ambiente voltados para homossexuais, por querer ver a namorada feliz, todavia desta vez houvera muitos elementos homossexuais unidos, os quais o massacrava. Mais uma vez, guardou seus sentimentos para si.
Logo que pôde abstrair um pouco o ambiente, focando-se na alegria da namorada, ele conseguiu se sentir mediocremente bem. Mas isso não durara muito, pois os amigos dela, que são parte integrante do público deste tipo de lugar demandavam a atenção dela, colocando ele de lado. Igualmente, a namorada dele queria dar atenção para seus amigos. Mais uma vez ele se via num meio massacrante. Não demorou muito e uma mulher bêbada derramou um copo grande de cerveja na blusa dele. Neste momento ele quase colocou os sentimentos para fora, porém conseguiu segurar-se.
Numa parte da boate mais reservada, com música mais baixa, ele, sua namorada e os amigos de sua namorada puderam sentar e conversar - quer dizer, ela conversar com seus amigos. Ele viu que ela queria dividir a atenção entre ele e seus amigos, o que foi louvável, mas aquilo incomodava-o um pouco.
Homens se beijando, mais de um ao mesmo tempo. Três, quatro, até cinco. Pessoas fumando e bebendo até não conseguir mais engolir.
Ele era um alien ali...

4 comentários:

Unknown disse...

Cara ! não passei aqui exatamente pra comentar sobre o post mais recente ! mas pra dizer q me admiro q vc tem esse espaço desde 2008 e nunca me disse ! já li o conto do alien, e em breve vou todas as outras postagens. parabéns cara ! achei o blog interessante ! depois comento melhor sobre suas crônicas !
abraços de seu amigo.

Pablo

Eduardo disse...

Ah Pablo,valeu mesmo pela atenção! eu não divulguei efetivamente meu blog por vergonha, acho... sei lá. enfim, agradeço mt por alguém ter lido, e ainda querer ler mais algumas coisas!

PS: Uma pequena correção já tenho esse blog desde 2007 ;)

Renan disse...

Fala Eduardo gostei bastante, mas agora uma dúvida: é auto-biográfico?rsrsr

Obs:se puder dá uma moral no meu bog também

Bruno Marconi da Costa disse...

Falae rapaz!

Gostei a beça do conto :)
Procura o livro "O Estrangeiro", de Albert Camus. É uma ideia MUITO parecida com a sua.

E, bem, sobre o texto... ter a cabeça aberta a novas experiências é sempre bom. Por mais que a gente não goste, à priori, dos lugares, é legal mudar a postura para interagir com culturas diferentes. Talvez, assim, você não se sentiria mais tão alien nos lugares... a integração viria através da compreensão e de que, bem, somos todos humanos.

Bem, é minha posição. :)