sábado, 11 de agosto de 2012

Enquanto isso, na escola do Estado do Rio...

Bem, me formei professor de História. E agora? Acho que esse foi um dos meus primeiros pensamentos no início de 2012... Estava desempregado e formado. Tinha que entrar oficialmente no "mundo adulto" do trabalho e do emprego. Responsabilidades, contas a pagar, seriedade, etc. Apesar dessa ideia não me agradar muito, parti à ela! Estudei para concursos públicos, procurei por empregos temporários, memso fora da minha área. Mesmo assim, passei meses desempregado e em casa. Até que fui convocado por um concurso que tinha feito em Dezembro de 2012! A questão é que o lugar para qual fiz o concurso é em outra cidade, que nem ao menos faz fronteira com a qual eu vivo. Tive que me acostumar, primeiramente, com a cidade em si. Ela é distante, e, além disso, é empobrecida, o seu governo tem um histórico corrupto e de desamparo com a população e suas necessidades básicas, por exemplo, falta de saneamento básico, transporte digno (algo crônico em todo o Estado do Rio, diga-se de passagem), além da total falta de atenção com a educação e a cultura dos cidadãos (novamente, como em todo o Estado do Rio, a exceção da nossa querida aristocracia da Barra, Recreio e algumas áreas da Zona Sul). Essa fórmula de governo parasitário fez com que a cidade em questão se tornasse um lugar de pessoas sem acesso à educação ou grandes expectativas de melhora nas condições de vida. Somando ao domínio de criminosos, entre narcotraficantes e milicianos, a população cresceu cronicamente carente. Dei toda essa volta para tentar, ao menos um pouco, justificar a conjuntura que as crianças e adolescentes crescem naquela cidade. Mas antes de ter contato com os alunos diretamente, passei por problemas e trâmites burocráticos dignos de Kafka, que me fizeram ir do bairro afastado para a Metropolitana (que funciona como uma secretaria de educação regional, para aquela cidade) que se localiza no centro daquela cidade diversas vezes. Assim pude conhecer a infraestrutura da cidade e suas necessidades estruturais e mais aparentes. Agora, sobre a escola. Onde ela se localiza é uma região bastante empobrecida da cidadde: com valão a céu aberto e ruas sem asfaltamento. Há poucas linhas de ônibus para lá, de forma que parte do serviço de transporte se dá, legal ou ilegalmente, por vans e kombis. Por essa combinação esta escola é considerada de "difícil provimento", pois os professores não desejam ir trabalhar lá. Então, depois de aproximadamente 2 meses da nomeação, entrei na sala de aula. Fui selecionado para lecionar em turmas do 6º, 7º e 8º ano do Ensino Básico (apesar de que a escola também conta com Ensino Medio). A agitação normal da faixa de idade deles não me surpreendeu, mesmo sendo a primeira vez que entrava numa sala de aula na qualidade de professor. Reparei que há um alto índice de repententes. Por exemplo, numa turma que a faixa de idade padrão é de 11 a 13 anos, há repetentes de 15 e 16 anos. Os repetentes costumam ser os mais indisciplinados, mas não por isso podem ser deixados de lado, também necessitando de atenção pelas dificuldades que enfrentam tendo de repetir um ano. Reparei que, claramente, eles têm que ter confiança e se acostumar com as mudanças, inclusive a minha entrada no lugar do professor anterior (que só estava ali pra tapar o buraco da falta de professores na rede estadual de educação). Estou me esforçando para que a aula lhes seja agradável e lúdica, a fim de que se mantenha um mínimo de ordem, pois eles não possuem disciplina e, muito menos, compreendem a importância da educação (aulas, professor, matérias) para a vida deles. Continuarei este texto em outra oportunidade. ^^

terça-feira, 14 de fevereiro de 2012

Distância

Quando chegou na rodoviária, carregando na mala e na mochila tudo que tinha, sentiu-se perdido, olhando para os lados, desesperadamente tentando saber onde era para embarcar. Esquivando-se das pessoas que se amontoavam no grande hall, carregando todos os tipos de bagagem, ele pensou: “interior do Mato Grosso... Eu só posso estar ficando maluco!”. Mas mesmo com este pensamento, sua vontade de viajar só crescia. Tinha trabalhado como mac escravo durante todo o 3º ano do Ensino Médio para fazê-lo. Desde de que havia a conhecido pela internet, por acaso, não conseguiu mais tirá-la da cabeça. Em poucos meses ele decidiu que devia ir conhecê-la. E, para isso, economizou um ano de salário parco. “Nessa hora meus pais já devem estar acordando para ir trabalhar, e viram que eu sumi e deixei o celular pra trás, com um bilhete explicando tudo. É melhor assim, eles nunca deixariam eu fazer essa doideira...”. No fim deste pensamento ele alcançou um guarda e pediu as instruções necessárias. Tendo aprendido o caminho por onde o ônibus sairia, o coração dele se aquietou um pouco, apesar de continuar pensando nas consequências do que estava fazendo. O ônibus se afasta de sua cidade natal, revelando um caminho desconhecido para um garoto que nunca tinha viajado antes. As hoas sucediam-se e reproduziam-se no relógio enquanto ele olhava a verde paisagem pela janela. Era tarde da noite quando ocorreu a primeira parada da viagem. Ele nunca tinha saído do estado onde havia nascido, e o sotaque dos vendedores de estrada lhe era estranho. Ele atravessou a madrugada acordado, com a sensação de estar sendo observado a todo momento, somando-se o desconforto do assento do ônibus. As horas se multiplicavam, e, afinal, o cansaço superou o medo e ele adormeceu profundamente. Acordado pelo Sol opaco que disputava espaço com os arranha-céus de São Paulo ele se espreguiçou, sentindo torcicolo. O ar desta cidade era espesso e difícil de se respirar. Além disso, as pessoas desta cidade não eram amistosas. Ele quis sair de lá, o mais rápido possível. Nessa altura o ônibus necessitava de reparos, o que atrasou a viagem em algumas horas e fazendo com que ele ficasse mais apreensivo. Ele se sentia inseguro e um pouco perdido numa cidade estranha, sem nenhum rosto amigo. De volta à estrada, as estradas e rodovias se repetiam no caminho seguido pelo coletivo, enquanto ele olha pela janela para a paisagem campestre. “Não posso ficar fazendo lanches em todas as paradas, senão meu dinheiro vai acabar antes de eu chegar lá...” pensou ele, calculando quanto dinheiro tinha e o quanto precisava para chegar na cidadezinha dela. Depois do que pareceu uma eternidade para ele, reparou que o ônibus alcançou o estado do Mato Grosso do Sul. Mesmo estando acostumado ao calor de sua cidade natal, o calor do novo estado era diferente e novo para ele, tornando as paradas incômodas. Apesar do medo que sentia, ele procurava forças na foto preto-e-branca que imprimiu dela, na impressora de casa que somente continha tinha preta. “Vou conhecê-la... Finalmente vou conhecê-la!” ansiava constantemente enquanto o motorista continuava seu caminho, conduzindo o veículo de passageiros. Os minutos e instantes se arrastavam no relógio. Os livros que havia levado para ler não saciavam mais o tédio de se estar preso à uma poltrona de ônibus de viagem. A bateria do aparelho de mp3 era racionada – para que não acabasse na primeira parte da viagem, ele só poderia ouvir algumas músicas por dia. Após todo este tempo na estrada a noção de tempo e de espaço dele havia se perdido: todos os vendedores de beira de estrada se assemelhavam, os restaurantes das paradas tinham os mesmos nomes há dias. Quando ele achou que estava à beira de enlouquecer e de que tudo isto era um engano ou um sonho maluco, o ônibus chegou no terminal rodoviário de Cuiabá. “Não acredito! Não estou acreditando... Cheguei em Cuiabá!!!” pensou ele enquanto andava com um sorriso involuntário estampado na área de desembarque. “Agora, tenho que embarcar para a cidade dela.” Com pouca dificuldade e agora satisfeito e confiante ele embarcou para o interior do Mato Grosso. As horas que se seguiram lhe pareceram agradáveis e passaram com rapidez, mesmo com o mau estado de conservação do ônibus. Chegou na cidade dela no entardecer. Um terminal improvisado o recepcionou. Ele respirou fundo quando desceu do ônibus. Olhou nos bolsos e achou o endereço onde ela iria encontrá-lo. O atraso em São Paulo fez com que houvesse agora uma incerteza em seu coração, por mais que ela tenha dito que iria esperá-lo no local e na hora marcadas pelos próximos dias, se tivesse algum problema. Andando atrapalhado num lugar ermo, ele alcançou o trecho da estrada de terra marcado. Então, vislumbrou uma mulher jovem, de sandálias rasteiras, vestido simples e cabelos castanhos ao sabor do vento, parada, esperando. Ele foi se aproximando, e antes que pudesse ver o rosto dela, ela se vira em sua direção e começa a correr. Inconscientemente ele larga sua mala e corre na direção dela. Eles se abraçam apertada e demoradamente debaixo do Sol do entardecer.