terça-feira, 14 de fevereiro de 2012
Distância
Quando chegou na rodoviária, carregando na mala e na mochila tudo que tinha, sentiu-se perdido, olhando para os lados, desesperadamente tentando saber onde era para embarcar.
Esquivando-se das pessoas que se amontoavam no grande hall, carregando todos os tipos de bagagem, ele pensou: “interior do Mato Grosso... Eu só posso estar ficando maluco!”. Mas mesmo com este pensamento, sua vontade de viajar só crescia. Tinha trabalhado como mac escravo durante todo o 3º ano do Ensino Médio para fazê-lo. Desde de que havia a conhecido pela internet, por acaso, não conseguiu mais tirá-la da cabeça. Em poucos meses ele decidiu que devia ir conhecê-la. E, para isso, economizou um ano de salário parco.
“Nessa hora meus pais já devem estar acordando para ir trabalhar, e viram que eu sumi e deixei o celular pra trás, com um bilhete explicando tudo. É melhor assim, eles nunca deixariam eu fazer essa doideira...”. No fim deste pensamento ele alcançou um guarda e pediu as instruções necessárias.
Tendo aprendido o caminho por onde o ônibus sairia, o coração dele se aquietou um pouco, apesar de continuar pensando nas consequências do que estava fazendo.
O ônibus se afasta de sua cidade natal, revelando um caminho desconhecido para um garoto que nunca tinha viajado antes. As hoas sucediam-se e reproduziam-se no relógio enquanto ele olhava a verde paisagem pela janela.
Era tarde da noite quando ocorreu a primeira parada da viagem. Ele nunca tinha saído do estado onde havia nascido, e o sotaque dos vendedores de estrada lhe era estranho.
Ele atravessou a madrugada acordado, com a sensação de estar sendo observado a todo momento, somando-se o desconforto do assento do ônibus.
As horas se multiplicavam, e, afinal, o cansaço superou o medo e ele adormeceu profundamente.
Acordado pelo Sol opaco que disputava espaço com os arranha-céus de São Paulo ele se espreguiçou, sentindo torcicolo. O ar desta cidade era espesso e difícil de se respirar. Além disso, as pessoas desta cidade não eram amistosas. Ele quis sair de lá, o mais rápido possível.
Nessa altura o ônibus necessitava de reparos, o que atrasou a viagem em algumas horas e fazendo com que ele ficasse mais apreensivo. Ele se sentia inseguro e um pouco perdido numa cidade estranha, sem nenhum rosto amigo.
De volta à estrada, as estradas e rodovias se repetiam no caminho seguido pelo coletivo, enquanto ele olha pela janela para a paisagem campestre. “Não posso ficar fazendo lanches em todas as paradas, senão meu dinheiro vai acabar antes de eu chegar lá...” pensou ele, calculando quanto dinheiro tinha e o quanto precisava para chegar na cidadezinha dela.
Depois do que pareceu uma eternidade para ele, reparou que o ônibus alcançou o estado do Mato Grosso do Sul. Mesmo estando acostumado ao calor de sua cidade natal, o calor do novo estado era diferente e novo para ele, tornando as paradas incômodas.
Apesar do medo que sentia, ele procurava forças na foto preto-e-branca que imprimiu dela, na impressora de casa que somente continha tinha preta. “Vou conhecê-la... Finalmente vou conhecê-la!” ansiava constantemente enquanto o motorista continuava seu caminho, conduzindo o veículo de passageiros.
Os minutos e instantes se arrastavam no relógio. Os livros que havia levado para ler não saciavam mais o tédio de se estar preso à uma poltrona de ônibus de viagem. A bateria do aparelho de mp3 era racionada – para que não acabasse na primeira parte da viagem, ele só poderia ouvir algumas músicas por dia.
Após todo este tempo na estrada a noção de tempo e de espaço dele havia se perdido: todos os vendedores de beira de estrada se assemelhavam, os restaurantes das paradas tinham os mesmos nomes há dias.
Quando ele achou que estava à beira de enlouquecer e de que tudo isto era um engano ou um sonho maluco, o ônibus chegou no terminal rodoviário de Cuiabá. “Não acredito! Não estou acreditando... Cheguei em Cuiabá!!!” pensou ele enquanto andava com um sorriso involuntário estampado na área de desembarque. “Agora, tenho que embarcar para a cidade dela.”
Com pouca dificuldade e agora satisfeito e confiante ele embarcou para o interior do Mato Grosso.
As horas que se seguiram lhe pareceram agradáveis e passaram com rapidez, mesmo com o mau estado de conservação do ônibus. Chegou na cidade dela no entardecer.
Um terminal improvisado o recepcionou. Ele respirou fundo quando desceu do ônibus. Olhou nos bolsos e achou o endereço onde ela iria encontrá-lo. O atraso em São Paulo fez com que houvesse agora uma incerteza em seu coração, por mais que ela tenha dito que iria esperá-lo no local e na hora marcadas pelos próximos dias, se tivesse algum problema.
Andando atrapalhado num lugar ermo, ele alcançou o trecho da estrada de terra marcado. Então, vislumbrou uma mulher jovem, de sandálias rasteiras, vestido simples e cabelos castanhos ao sabor do vento, parada, esperando.
Ele foi se aproximando, e antes que pudesse ver o rosto dela, ela se vira em sua direção e começa a correr. Inconscientemente ele larga sua mala e corre na direção dela. Eles se abraçam apertada e demoradamente debaixo do Sol do entardecer.
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Um comentário:
lindo.
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